Durante o período de 26 de abril de 2024 até o momento, ocorreram extremos climáticos opostos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Mais de 400 municípios e 2 milhões de habitantes foram afetados no Rio Grande do Sul pela quantidade anômala de precipitação na região, havendo registros de mais de 800 milímetros no estado, enquanto que no Sudeste, houveram cidades que não experimentaram nenhuma gota de chuva. Mas o que explica isso? Os meses de abril e maio são naturalmente meses de transição do regime chuvoso para o seco na região Sudeste, enquanto que na região Sul, os sistemas frontais começam a ficar mais frequentes, porém, o que se foi observado não condiz com a normalidade. Dias mais quentes e secos contribuíram para um período longo de onda de calor em pleno mês de maio, ao passo que as frentes frias ficaram restritas à região Sul. O que explica então esse padrão? Na atmosfera, existem perturbações que afetam o globo todo, sendo assim, o que ocorre, por exemplo, no oceano Índico se propaga aqui na América. Assim, um trem de ondas de Rossby, ou seja uma perturbação atmosférica, vindo do Oceano Índico causou um padrão de alta pressão atmosférica anomalamente positiva próxima a região Sudeste, enquanto que no sul da América do Sul houve uma baixa pressão atmosférica anomalamente negativa, sendo o Rio Grande do Sul uma faixa de transição propícia para que os sistemas frontais fiquem estacionários. Com isso, as frentes frias foram impedidas de avançar para a região Sudeste devido à persistência do bloqueio atmosférico em médios e altos níveis decorrido desse padrão de grande escala, impedindo a convergência na região e causando tempo seco e gradativamente mais quente. Além disso, o chamado Jatos de Baixos Níveis vindos da Amazônia retroalimentam a situação no RS, advectando ar quente e transportando vapor d’água, sendo “combustíveis” para os Jatos de Altos Níveis que permaneceram sobre o RS e contribuíram para instabilidade e convergência e, consequentemente, os altos volumes de precipitação de forma contínua. Por isso, cidades próximas aos rios estão inundadas, pois o fluxo fluvial foi aumentado de forma inesperada, ou seja fora da normalidade, e os corpos d’água não comportam tamanho volume hídrico, o que causou uma das maiores calamidades no estado do RS.
Autores: Natan Chrysostomo de Oliveira Nogueira e Michelle Simões Reboita
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